Agora só o descaso.
Naquele tempo em que chorar era uma comemoração ao despudor. Maleabilidade nula. Acompanhar-me até a esquina, desnecessário, de maneira nenhuma as ruas e os becos tão desertos se prestariam a oferecer-me uma aventura. O que acontece dentro não necessariamente deve estar explícito na cor da casca. E tanto orgulho, orgulho de ser orgulhosa, quantos elogios dos de fora que me parabenizavam mais do que eu a mim. Coragem que transbordava, jogos ganhados antes de começar, e qual se atreveria? Modéstia vai, modéstia vem: garota, eu tenho e você não, eu sei, eu sei de tudo, tudo, tudo, não tenho culpa, eu sei porque aprendi sozinha e sozinha não pergunto nada. Assim vai continuando até que eles percebam, que enxerguem, que assimilem. Mas por conta própria aprenderam a não me oferecer a mão, os carinhos banais e as atenções mais vulgares eram privilégio das mais fracas, não avisar, não perguntar, pois aprenderam a confiar, ao passo que ensinaram-me o que tarde aprendi, que confiar é um pouco esquecer.